Em 2012, tive o privilégio de ouvir uma aula interessantíssima com o Prof. Dr. Miquel Martinéz educador e ex-vice-reitor da Universidade de Barcelona, envolvido com educação de valores e qualificação de docentes. Na sua fala algo me chamou muito a atenção.
Ele fez um contra-ponto ao discurso pedagógico pós-moderno de aversão à educação enciclopédia, também chamada de “educação tradicional”, asseverando que a crítica resultou em desqualificação da profissão docente. O professor deixa de ser um profissional com repertório cultural e torna-se mero facilitador. Eis uma crítica que compartilho com Dr Martinéz. Discordo da ideia corrente de que a sofisticação intelectual do educador diz respeito a certo elitismo, um capricho burguês. Infelizmente galgados nessa ideologia, muitos educadores tornaram-se insípidos cultural e intelectualmente. A consequência inevitável foi o declínio e a desvalorização da profissão docente. Baixos indicadores de aprendizagem não possuem causas simples. Mas a qualidade da prática docente está entre os principais fatores de impacto sobre o desempenho escolar. Qualquer visita à sala de aula de uma escola pública ou mesmo privada, o que se verá são excelentes docentes, mas muitos com pouca consciência teórica e familiaridade com o conteúdo a ser ensinado e sérias limitações metodológicas (pouca capacidade didática). O problema não é o salário, como pressupõe o senso comum, ao contrário, a realidade mostra docentes mal pagos, mas que mesmo assim, são excelentes profissionais. Docentes insuficiente formados, intelectualmente rasos e pouco conscientes de sua prática docente é um problema grave para a educação.
Sem dúvida, um dos fatores é a falta de reconhecimento social e público da profissão docente. O próprio professor não se valoriza, devido ao fato de que a sociedade não o reconhece, e isto, novamente, se deve em grande medida ao esvaziamento intelectual, o professor deixou de ser mestre. Temo que o professor tenha incorporado em grande medida este papel periférico e que isto também esteja sabotando sua própria vocação.
Sei que pode haver algum tipo de reação aqui, uma proposta de retorno ao tradicionalismo pedagógico ou coisa do gênero. Já deixo claro que não concordo com a linearidade pedagógica, com modelos de docência unidirecional, com o conteudismo, a marginalização do aluno no processo e a homogeneização institucional. Entretanto, em processos revolucionários e em reformas culturais sempre ocorrem perdas de conquistas históricas. Neste caso, as reformas educacionais ao fim do último século no Brasil contribuíram para este esvaziamento.
Não se pode chamar de “conteudista” um processo educativo culturalmente fecundo, ou que prima pela democratização da informação e em fornecer meios cognitivos no acesso e tratamento de conteúdos aos alunos. O mundo é permeado de códigos culturais, de valores e a mídia está aí. O grande volume de informação disforme aos olhos dos jovens expectadores precisa ser criticado, articulado e retro-alimentado. Mas, como fazer isso, se muitas vezes os professores chegam como técnicos da educação, como reprodutores de livros didáticos, se muitos chegam sem articulação e sem consciência de sua autonomia docente? Uma saída seria recuperar o professor como um erudito didático. O conceito recupera o professor como intelectual denso e consciente ao mesmo tempo que lhe cobra responsabilidade na arte de ensinar e formar seus aprendizes.
Em 2012, tive o privilégio de ouvir uma aula interessantíssima com o Prof. Dr. Miquel Martinéz educador e ex-vice-reitor da Universidade de Barcelona, envolvido com educação de valores e qualificação de docentes. Na sua fala algo me chamou muito a atenção.
Ele fez um contra-ponto ao discurso pedagógico pós-moderno de aversão à educação enciclopédia, também chamada de “educação tradicional”, asseverando que a crítica resultou em desqualificação da profissão docente. O professor deixa de ser um profissional com repertório cultural e torna-se mero facilitador. Eis uma crítica que compartilho com Dr Martinéz. Discordo da ideia corrente de que a sofisticação intelectual do educador diz respeito a certo elitismo, um capricho burguês. Infelizmente galgados nessa ideologia, muitos educadores tornaram-se insípidos cultural e intelectualmente. A consequência inevitável foi o declínio e a desvalorização da profissão docente. Baixos indicadores de aprendizagem não possuem causas simples. Mas a qualidade da prática docente está entre os principais fatores de impacto sobre o desempenho escolar. Qualquer visita à sala de aula de uma escola pública ou mesmo privada, o que se verá são excelentes docentes, mas muitos com pouca consciência teórica e familiaridade com o conteúdo a ser ensinado e sérias limitações metodológicas (pouca capacidade didática). O problema não é o salário, como pressupõe o senso comum, ao contrário, a realidade mostra docentes mal pagos, mas que mesmo assim, são excelentes profissionais. Docentes insuficiente formados, intelectualmente rasos e pouco conscientes de sua prática docente é um problema grave para a educação.
Sem dúvida, um dos fatores é a falta de reconhecimento social e público da profissão docente. O próprio professor não se valoriza, devido ao fato de que a sociedade não o reconhece, e isto, novamente, se deve em grande medida ao esvaziamento intelectual, o professor deixou de ser mestre. Temo que o professor tenha incorporado em grande medida este papel periférico e que isto também esteja sabotando sua própria vocação.
Sei que pode haver algum tipo de reação aqui, uma proposta de retorno ao tradicionalismo pedagógico ou coisa do gênero. Já deixo claro que não concordo com a linearidade pedagógica, com modelos de docência unidirecional, com o conteudismo, a marginalização do aluno no processo e a homogeneização institucional. Entretanto, em processos revolucionários e em reformas culturais sempre ocorrem perdas de conquistas históricas. Neste caso, as reformas educacionais ao fim do último século no Brasil contribuíram para este esvaziamento.
Não se pode chamar de “conteudista” um processo educativo culturalmente fecundo, ou que prima pela democratização da informação e em fornecer meios cognitivos no acesso e tratamento de conteúdos aos alunos. O mundo é permeado de códigos culturais, de valores e a mídia está aí. O grande volume de informação disforme aos olhos dos jovens expectadores precisa ser criticado, articulado e retro-alimentado. Mas, como fazer isso, se muitas vezes os professores chegam como técnicos da educação, como reprodutores de livros didáticos, se muitos chegam sem articulação e sem consciência de sua autonomia docente? Uma saída seria recuperar o professor como um erudito didático. O conceito recupera o professor como intelectual denso e consciente ao mesmo tempo que lhe cobra responsabilidade na arte de ensinar e formar seus aprendizes.
O professor necessita se articular, se sofisticar e se tornar um agente criativo e fomentador de ambientes propícios à atividade intelectual, cultural, emocional e ética. Vejo cada uma dessas atividades em uma escala de prioridades. Na dimensão intelectual, abordar com critério a realidade; na dimensão cultural propiciar a fecundidade criativa e uma postura interpretativa; na dimensão emocional explorando os potenciais afetivos e na esfera ética a vida virtuosa. Sem sofisticação intelectual, um ambiente estimulante e sem promoção de virtudes, a atividade docente se esvaziará e esta será a última “pá de cal” sobre o atual status docente. Quem ganha com a recuperação do professor erudito e didático? O professor e o aluno. Todos ganham.
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